AUSÊNCIA DE UM PROPÓSITO
Agostinho Dalla Valle

“As pessoas não compram o que você faz, elas compram o porquê você faz” – Simon Sinek.

A maioria das empresas sabe o que produzem, como produzem mas poucas sabem por que produzem, e aqui entra a ausência de um propósito.
Empresas que buscam o lucro a qualquer custo não cativam mais seus funcionários e, por isso, não atingem os resultados esperados. O lucro não pode ser o único nem o principal objetivo de uma organização. Empresas com propósito – razão de existir – que transcendem o lucro fazem muita diferença no mercado e nos negócios. Propósito conecta a empresa com a comunidade onde atua, não apenas porque gera emprego e renda, mas porque gera um impacto positivo no ambiente em termos de qualidade de vida ou seja, possui uma relação propositiva com os seus stakeholders.

Empresas que dispõem de um propósito autêntico e efetivo conseguem melhores resultados, pois são mais sustentáveis no longo prazo e porque conseguem atrair e reter profissionais mais competentes e com maior engajamento por enxergarem que estão se dedicando a uma causa maior e não apenas a um emprego. As gerações mais jovens são fortemente motivadas por significado e propósito em relação à sua carreira e, quando não encontram essas qualidades nos ambientes de negócios, sentem-se frustradas. O business purpose ajuda a desenvolver atitudes como a “dor do dono”, que facilitam a consecução dos objetivos estratégicos da organização e levam a equipe a sentir orgulho de pertencimento a uma causa moral, que pode melhorar a sociedade em alguma coisa. Propósito tem a ver com legado, com o que vamos deixar para a posteridade, para a família, a empresa, a comunidade, ao mundo em que vivemos.

A empresa deve estar bem preparada, independentemente das circunstâncias ou dificuldades, com planos, metas claras e foco. Tudo isso faz parte do plano de negócios, que por si só não é suficiente para o sucesso, pois falta ainda a definição do propósito do empreendimento.

Simplificadamente, propósito é aquilo que move você a acordar todos os dias e a buscar a razão da sua existência, do seu trabalho e da sua empresa. Os sócios devem definir e disseminar internamente que o propósito da empresa não é apenas econômico, mas também social, gerando satisfação para todas as partes envolvidas, iniciando com os colaboradores e incluindo os stakeholders externos – clientes, fornecedores e governo.

O mercado, especialmente o financeiro, tem demandado cada vez mais um posicionamento das empresas em relação às questões ambientais e sociais e, na prática, poucos executivos sabem lidar com equilíbrio as demandas ESG – Environmental, Social, Governance – temática ambiental, social e governança, que deve ser compartilhada com o CA.

Acredito que sem objetivos que possam ir além do econômico – propósito – uma empresa é apenas um player a mais no mercado, e um profissional sem um propósito tende a fazer apenas o elementar. A vida somente tem sentido quando o que fazemos faz sentido, o que é feito com paixão.

Eu amo atuar em consultoria e em governança corporativa e, dessa forma, além da remuneração obtida pelos serviços prestados, me vejo produzindo e contribuindo para um mundo melhor. Enquanto consultor e conselheiro de administração, meu propósito é ajudar o maior número possível de empresários e gestores a compreenderem as melhores práticas de governança corporativa e de gestão empresarial. Essas podem ser aplicadas em seus negócios para obter os melhores resultados que possibilitem o crescimento, a sustentabilidade, a geração e distribuição de renda, melhorando, assim, a qualidade de vida das pessoas envolvidas e da comunidade. Este é o legado que pretendo deixar com o meu trabalho.

A jornada só é completa quando a gente encontra uma atividade que reúne paixão associada à vocação, à formação e à missão de vida.

O executivo que atua com brilho nos olhos, que escuta as pessoas e que procura efetivamente resolver as dificuldades do cliente, consegue transformar a realidade da empresa.

O que ajuda a definir se temos ou não propósito é perguntar-se:

“Se eu ou minha empresa não existir amanhã, o que acontece?”

Propósito envolve subjetividade conceitual, mas implica numa certeza incontestável de que empresas que atuam visando apenas o lucro imediato e resultados de curto prazo não têm vida longa. Cabe ao conselho de administração contribuir na definição e na manutenção de um propósito que vá além da missão e, de tempos em tempos, incentivar a empresa a ressignificar o seu propósito.

Alguns empresários e gestores esquecem que a sua empresa hoje é avaliada pelos clientes e consumidores não somente pelo resultado econômico que ela gera, mas principalmente pelos seus diversos impactos no ambiente na qual ela está inserida.

Agostinho Dalla Valle

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